quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A coisa mais antiga de que me lembro

Lembro-me de ser muito pequena e de ainda poder dormir na cama com a minha mãe. Morávamos em uma casa muito escura e que, para mim, era bem grande. O meu avô morava conosco e não saia da cama, só às vezes para o banho e aos domingos quando se sentava de cadeira de rodas com a gente à mesa do almoço.

A minha mãe não gostava muito daquela casa. Não queria que ficássemos sozinhas nunca e, na hora de dormir, ela arrumava o berço da minha irmã e a minha cama no mesmo quarto em que ela dormia com o meu pai, só o avô dormia em outro quarto isso porque ela não tinha força para carregar a cama dele para junto de nós. Ninguém entendia a razão de tanto receio, eu e minha irmãzinha tínhamos que ficar sempre do lado dela onde quer que ela fosse, em todos os cômodos da casa. E se a bebê dormia eu tinha que ficar lá com ela “tomando conta”. Não sei que idade eu tinha mas a minha irmã ainda nem andava e temos uma diferença de idade de três anos uma da outra.

Uma noite, depois da maratona da arrumação das camas, enquanto todos dormiam no quarto eu senti muito frio. Sonhei que estava dormindo no chão, era bem liso e gelado como mármore, lembro que me mexi e que acordei para pegar o cobertor, mas eu já estava coberta. Levantei um pouco a cabeça, olhei para a porta do quarto e vi uma pessoa. Tinha uma pessoa lá, meu avô não andava. Olhei melhor e pareceu ser uma mulher, e ela estava enrolada em uma espécie de toalha como se tivesse saído do banho e tinha uma jóia no pescoço. Uma jóia grande.

Fiquei bastante assustada, mas não falei nada, não chamei ninguém só fechei os olhos com bastante força e fingi que nada tinha acontecido. Continuei ali imóvel para que ela não reparasse que eu a tinha visto. No dia seguinte a casa parecia ainda mais escura.

Mudamos de lá pouco tempo depois, minha mãe diz que não ficamos um mês inteiro naquela casa e que ainda assim foi tempo demais.

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